Foste aquele que passou, nem sei bem como nem porquê pelo meu registo de prioridades e vislumbres.
Posso dizer que fui buscar-te. Porque sei que fui. Imaginei-te perto, muito antes de teres sido o que foste para mim. Nunca te disse.
Poderia ter previsto, por isso mesmo, que irías bater-me forte na minha capacidade de sentir.
O que senti foi tão forte e desenvolveu-se tão rápido que pareceu que já tinha sido sentido há anos e se congelou em séculos para desencadear novamente.
O que senti por ti roçou ali num carinho estranho que se sente quando se sente amor.
Só sei que não foi, porque a paixão têm a capacidade de nos iludir e assolapar e o amor constrói-se com ponderação e muito tempo. E eu já senti o que é amor. Sei o que é amar um homem.
Poderia ter previsto que não poderias ser apenas um apetite da minha seletividade... Uma iguaria que escolhi. Poderia ter previsto, mas preferi sentir-te. Intensamente. E não lutar-me ou contrariar-me. Vi-te a levar-me a não ter medo, mas observei-me a apaixonar? Analisei-te? Se estarias a levar-te comigo...?
Senti e permiti-me sentir tão intensamente quanto o meu egoísmo me permitiu. Fui egoísta de mim para mim. Deixei-me vislumbrar só pelo prazer de saber-me tão bem estar apaixonada como estava. De verdade. Mesmo após entender que isso me daria uma amargura na mesma proporção ou maior que o prazer sentido por me relacionar contigo.
Foste o que era capaz, como há muito alguém não era, de me fazer voar.
Foste o que me fez repensar as minhas prioridades e ser egoísta de mim para mim. Por ti eu largava muito do que tinha acabado de definir... Do que tinha esclarecido ser um rumo a seguir. Eu inverti-me 180º, sobrepús desejos nos meus desejos. Eu alterei metas, turvei horizontes. Tudo por o que senti por ti. Não por ti. Ou foi por ti? Sei lá... Mas que senti, eu senti!
Alterei vezes sem conta o que idealizei para mim, por teres chegado onde chegaste dentro de mim.
Tocaste onde não sabia que poderias. E a certa altura, eu a ver isso acontecer e a deixar acontecer... E a torcer por acontecer...
Inverti valores e opiniões por momentos e pensei que estava a ficar louca.
Levaste-me para onde fui ou eu fiquei momentaneamente louca e fui sozinha? Eu é que me levei a tal paixão e loucura? Ou conduziste-me?
Aquele tempo tão curto pareceram-me meses...
Não imaginas no que me fizeste acreditar no início! Fizeste-me sentir uma princesa, após a guerra dos tronos passada.
Até me esqueci que nasci Rainha e não foste tu quem me fez princesa. Ainda que me sentisse levada ao colo...
E enquanto escrevo, um nó se forma dolorozo na minha garganta, aquele nó que nos dá a tristeza quando a prendemos, de quando ainda sentes o que pensas e pensas no que ainda sentes.
Ainda estou para compreender «Porquê?».
Porquê? Quem és tu afinal?
"O Tal" na minha crença, já não existe porque percebi em tempos passados, antes de ti, a realidade de dificilmente uma relação ser para a vida e essa, não é para mim. Existem Tais... Uns especiais.
Talvez por seres tão o meu deslumbre e uma fraqueza para mim, não foste um tal nem ficaste.
E assim, semelhentemente doloroso, mais ninguém o será para mim.
Mas já foste... Foste embora.
Mas Tu foste.
Ainda bem que foste.